Eles não estudam, não trabalham e não procuram emprego. Conhecidos como
“nem nem”, os jovens ociosos entre 15 e 29 anos já somam 8,8 milhões no
País – o que representa mais de 17% dos brasileiros nessa faixa etária.
Levantamento publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) no fim do ano passado mostra que o número de jovens nessa
situação aumentou em 708 mil de 2000 a 2010.
Os motivos que levam ao abandono da escola e do trabalho podem ser bastante diversificados. O certo é que a geração “nem nem” é um fenômeno de consequências perigosas para o futuro dos jovens e do País, como alerta Solange Kanso, uma das autoras da pesquisa. “Com pouco estudo e baixo rendimento, o jovem não consegue se preparar para o mercado. Não estar inserido no mercado resulta em renda ainda menor e isso afeta a frequência escolar, vira um ciclo vicioso”, explica.
A maioria dos “nem nem” tem baixa
escolaridade e vive em famílias com poucos recursos financeiros (leia
mais no fim desta página). O desalento, a falta de renda ou de
perspectivas futuras e a necessidade de assumir outras tarefas são
algumas das hipóteses para essa situação.
Segundo a presidente do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), Ângela
Guimarães, a violência e a falta de políticas para a juventude
contribuem para engrossar a fila de jovens desocupados. “É necessário
reconhecer a identidade juvenil, criar ações específicas e combiná-las
com políticas de combate à miséria, pois mais de 80% deles são pobres”,
argumenta.
As mulheres representam 67,5% dos “nem nem”, embora esse número venha caindo desde os anos 1980. O casamento e a maternidade influenciam no abandono do estudo. Foi o que aconteceu com Aline Ferreira, de 18 anos. Ela cursava o primeiro ano do ensino médio, aos 16 anos, quando descobriu que estava grávida de Rodrigo. “Eu tinha vergonha de ir à escola e passava muito mal por causa da gravidez, acabei desistindo.” Ela já tentou recomeçar a escola, mas repetiu o ano porque faltava às aulas quando o filho ficava doente. Há alguns meses, Aline conseguiu um estágio em um órgão público depois de várias tentativas frustradas. “O semblante do entrevistador até mudava quando eu dizia que era mãe”, conta. Agora, Rodrigo está matriculado em uma creche. A mãe e a irmã mais nova de Aline se revezam para cuidar do menino quando ela sai para trabalhar ou estudar. Os planos para 2013 incluem casar e terminar os estudos. “Amadureci, quero continuar progredindo e conseguir um emprego melhor”, aposta.